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Saúde no Trabalho

A relação com o trabalho pode nos deixar doentes?

Tempo de leitura estimado: 5 min.

O que é trabalho para você? A sua resposta vai ser diferente da minha, do seu colega de profissão e de todas as pessoas, porque, para cada um, há uma percepção diferente.

Se formos para a origem da palavra em latim tripalium, ela significa o instrumento de tortura usado na Roma antiga. Com a evolução, os gregos passaram a ver o trabalho como atividades menores. Já na história, vemos a atividade atrelada à escravidão, o que traz a ideia de castigo ou de sofrimento.

Porém, atualmente, o ‘conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim’, definição do dicionário para o trabalho, é o que conduz a ação diária do ser humano para trazer satisfação pessoal e sustento por meio da remuneração financeira.

O conceito de trabalho é definido por Karl Marx como a atividade sobre a qual o ser humano emprega sua força para produzir os meios para o seu sustento.

Para entender a visão e as definições de trabalho, é preciso compreender as mudanças nas relações ao longo da história.

A história

No século XIX, as longas jornadas de atividades faziam com que os trabalhadores tivessem o lema: “viver, para o operário, é não morrer.” Isso porque, com a tecnologia e as condições da época, não havia regulamentações estabelecidas e eles ficavam longos períodos nas fábricas.

A partir da automação do trabalho no século XX, passou a haver uma mudança da exigência da capacidade física dos trabalhadores para a utilização da sua capacidade psíquica.

Neste período, também, começaram a surgir novas regras da relação empresa-trabalhador, visando adicionar direitos aos profissionais.

Entretanto, a atividade humana chamada de trabalho ainda tem a conotação de labor, segundo a filósofa política, Hanna Arendt, que denomina como a ‘sobrevivência imediata e que se perpetua na repetição dos gestos e do que ela produz.

Uma atividade na qual o trabalhador não domina o processo e não detém o produto, sendo servo e não senhor da matéria que trabalha.’

Com o avanço da tecnologia, pensou-se que o trabalho pudesse ficar mais “leve”, porém, essa ‘laborização’ torna o mercado mais danoso à integridade física e psíquica dos trabalhadores, pois ficam conectados 24 horas por dia, 7 dias por semana.

A saúde e o trabalho

Se antes o corpo sofria com o ritmo alucinante de trabalho físico, hoje ele também sente esses impactos, mas pela mente.

E os dados provam: os transtornos mentais já acometem 30% dos profissionais, sendo a terceira maior causa de afastamentos no Brasil, por exemplo.

O esgotamento profissional, conhecido como Síndrome de Burnout, foi incluído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na Classificação Internacional de Doenças, a qual reúne enfermidades e estatísticas de saúde que serão prevalentes nos próximos anos, e entrará em vigor em 2022.

Mas, afinal, o que é o Burnout? A Síndrome de Burnout traz consigo a sensação de esgotamento físico e mental. É como se o nosso corpo fosse um controle remoto e começasse a emitir sinais de que a pilha está fraca a partir de atitudes negativas e mudanças bruscas de comportamento.

Sintomas:

– Falta de vontade de trabalhar;
– Agressividade;
– Isolamento;
– Irritabilidade;
– Lapsos de memória;
– Ansiedade e depressão;
– Pessimismo;
– Baixa autoestima;
– Dor de cabeça;
– Enxaqueca;
– Cansaço;
– Palpitação;
– Dores Musculares;
– Dores de estômago;
– Insônia,
– Entre outras.

Ao identificar dois ou mais desses sintomas, é preciso ficar alerta e buscar auxílio de especialistas, para que possam realizar o diagnóstico e propor o tratamento em estágio inicial.

No Brasil, os casos de Burnout têm aumentado, principalmente com a ansiedade desencadeada pela pandemia. A Fundação Owaldo Cruz (Fiocruz) avaliou o impacto em trabalhadores essenciais e identificou sintomas de ansiedade e depressão em 47,3% deles, tanto no Brasil quanto na Espanha.

Outros 42,9% perceberam mudanças nos hábitos de sono e 30,9% foram diagnosticados ou trataram doenças mentais durante o ano de 2020.

Mesmo antes da pandemia, as empresas começaram a se preocupar com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional de seus colaboradores, inserindo programas de bem-estar, acompanhamento psicológico, dentre outras medidas para evitar que seus colaboradores sofressem com transtornos mentais.

A busca pelo equilíbrio

No livro Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho, o filósofo Alain de Botton, diz que o trabalho pode ser a nossa principal fonte de sentido na vida, ao lado do amor. Afinal, passamos a maior parte do nosso tempo desempenhando as atividades profissionais e, poder encontrar prazer enquanto trabalhamos, é um benefício imenso.

Trago um exemplo real: o meu. Amo o que faço e trabalho muitas horas por dia. Mesmo assim, meu corpo reclamou em duas ocasiões – uma no último ano de faculdade e outra, em 2018, quando ainda trabalhava em uma agência.

Experiência

Tive duas crises iniciais de Burnout com os mesmos sintomas: dor de estômago muito forte. Percebi que tinha algo de errado na primeira vez, por não ser comum sentir esse incômodo. Fui acompanhada e não “pifei”, como dizem por aí. A segunda vez veio durante um ritmo intenso de trabalho e, literalmente, apaguei por dois dias.

Não vou dizer que depois disso diminui o ritmo ou mudei absurdamente os meus hábitos, porém, comecei a ouvir mais o meu corpo e a estabelecer quais são os meus limites. E esse é o equilíbrio para mim: dedicar-me à atividade física todos os dias, à leitura da Bíblia e de livros diversos, aos momentos em família.

Para cada um é de uma forma. Por isso, encontrar atividades que te “desliguem” por um momento e te energizem trazem muito mais benefícios para você, bem como para o trabalho, oxigenando as ideias.

Na relação atual de trabalho, não devemos ter medo de ficar doentes. O que devemos temer é que o trabalho nos deixe doentes por não termos notado os sinais do nosso corpo. Afinal, como todas as máquinas, precisamos fazer manutenções constantes e alimentá-la não apenas fisicamente, como também com conhecimento e descontração.

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escrito por
Mariana Alves de Assis
Cofundadora e CEO da MA² Business and Communications Empreendedora, internacionalista, comunicadora e jornalista, com 10 anos de experiência, sendo quatro deles dedicados à empresas internacionais. Coordena os times de PR no Brasil e América Latina no desenvolvimento, implementação e gerenciamento de projetos de comunicação, incluindo interface de comunicação interna e externa; treinamento de equipes; produção de eventos; ações de marketing e relações institucionais. Desenvolvimento e implantação do programa de novos negócios, e programa de comunicação de empresas de segurança da informação. Apoiou a criação de área de inteligência digital de agências. É cofundadora da MA² Business and Communications, Conselheira na Medical Peptide e Co-Founder da Plataforma de Inovação Medical Help.
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